CCE: fixação mecânica
Autores: Rémy Pujol
Ayuda a la realización: Nuno Trigueiros-Cunha
A contração das CCEs é a base do mecanismo ativo, mas não é condição suficiente. É necessário, para além disso, um sistema de fixação entre as CCEs e as outras estruturas do órgão espiral. Assim, a força criada pelas CCEs será transmitida às CCIs por intermédio da membrana tectória. Esta fixação, que se efetua com gradiente decrescente da base para o ápice da cóclea, explica que o mecanismo ativo seja predominante para as frequências agudas e médias, e muito menos importante para as frequências graves.
Esquema da fixação mecânica das CCE com as estruturas envolventes
Estas imagens representam respetivamente, (1) a fixação muito forte, no morcego, (2) a fixação forte, na base da cóclea do cobaio e (3) a fixação mais laxa no ápice da mesma cóclea. Numa mesma cóclea, os sistemas de fixação são mais fortes quanto mais próximo da base se encontra a célula. Este gradiente é devido ao mecanismo activo, que é mais eficaz na base (frequências agudas) que no ápice (frequências graves).
Ver também ” o xilofone”
NOTA: Neste esquema, assim como nos esquemas mais detalhados apresentados abaixo, as CCEs são amarelas, as células falangiais (de Deitrers) em castanho, a membrana tectória em azul claro e a membrana basilar em azul forte.
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1) cóclea de morcego
Uma CCE muito pequena (10 µm) está embutida na parte superior duma célula falangial (Deiters); um feixe da microtúbulos, no interior da célula falangial, fixa a base da CCE à membrana basilar.
a) Os cílios mais longos da CCE estão fortemente ancorados na membrana tectória.
b) No espaço entre as duas células é visível uma coleção de material denso.
Estas características morfológicas de fixação mecânica rígida correlacionam-se com zona de codificação de frequências muito elevadas (>80kHz).
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2) Espira apical da cóclea humana (ou cobaio)
A CCE de 20 – 30µm repousa sobre a célula falangial (Deiters) onde ainda é visível um feixe de microtúbulos, menos importante que no morcego. As membranas tectória e basilar são mais finas.
a) Os cílios mais longos da CCE estão ainda fortemente ancorados na membrana tectória.
b) No espaço entre as duas células o de material denso é menos visível.
Estas características morfológicas de fixação mecânica firme correlacionam-se com a zona de codificação de frequências elevadas (20kHz).
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3) Ápice da cóclea humana (ou cobaio)
Uma longa CCE (>70 µm) está pousada sobre a célula falangial (Deiters), na qual não é visível o feixe de microtúbulos e que possui um processo falangial muito longo. As membranas tectória e basilar são finas e formam entre si um ângulo aberto.
Estas características morfológicas de fixação mecânica muito laxa correlacionam-se com a zona de codificação de frequências graves(<1kHz)
Junção entre a CCE e a célula falangial (Deiters)
Em MET (microscopia eletrónica de transmissão) é possível visualizar os detalhes da fixação entre uma CCE da base duma cóclea de cobaio (ou humana) e a sua célula falangial (de Deiters).
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Na célula falangial (d), um feixe de microtúbulos (setas vermelhas) parte da junção com a CCE (o) para se ir ancorar na membrana basilar.
Escala: 500nm
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Em grande ampliação é possível ver uma coleção de material denso no espaço intermembranoso, assim como trabéculas (setas) ligando as duas membranas.
Estas especificidades morfológicas, muito mais evidentes na base, permitem que o mecanismo ativo da CCE amplifique o movimento da membrana basilar.
Escala: 150 nm
Impressões dos estereocílios das CCEs na membrana tectória
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Face inferior da membrana tectória em MEV (microscopia eletrónica de varrimento). As impressões (em W) dos cílios mais longos das CCEs são bem visíveis.
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Imagem de MET onde é visível o cílio mais longo da CCE ligeiramente afastado da sua impressão (seta vermelha) na membrana tectória.
escala: 1 µm