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A psicoacústica, disciplina que se encontra na fronteira entre a acústica e a fisiologia auditiva, ocupa-se essencialmente das relações entre as características do som e a sensação auditiva que ele provoca.
Designa-se sonoridade à componente da perceção auditiva ligada à intensidade acústica. Essa sensação, principalmente ligada à pressão acústica, permite-nos diferenciar um som forte dum som fraco.
Características da sonoridade
Limiar auditivo
Chamamos limiar auditivo da audição ao nível mínimo de pressão acústica eficaz necessária para provocar uma sensação auditiva, num ambiente silencioso. O limiar varia para cada ouvinte e para cada frequência.
Limiar de desconforto
Para cada frequência, limiar de desconforto corresponde ao nível mínimo de pressão acústica eficaz necessária para produzir uma sensação de desconforto auditivo.
Limiares normais
O limiar normal (absoluto e de desconforto) corresponde ao valor médio dos limiares (absolutos e de desconforto) dum grande número de indivíduos normouvintes.
Campo auditivo
Nas frequências audíveis, a área delimitada pelas curvas do limiar auditivo e do limiar de desconforto define o campo auditivo, zona de sensação auditiva ou área de audição. A dinâmica do campo auditivo é a diferença entre as duas curvas dos limiares.
O campo auditivo humano está compreendido entre uma pressão acústica de 0,02 mPa (0 dB SPL) e 20 Pa (120 dB SPL). Estes valores do campo auditivo aplicam-se apenas para as frequências compreendidas entre 0,5 e 8 kHz, onde a sensibilidade do ouvido é melhor. Para frequências inferiores e superiores é necessária uma pressão acústica muito superior para atingir o limiar auditivo.
Nota: Por antropomorfismo, designamos por infrassons todas as frequências inferiores a 20 Hz, mesmo que sejam audíveis para o ouvido de certos animais (ex: toupeira) em que a gama de perceção auditiva se estende a mais uma ou duas oitavas nos graves. Da mesma forma, designamos ultrassons a todos os sons acima de 20 kHz, apesar do cão ouvir até aos 40 kHz e o morcego até aos 160 kHz, ou seja respetivamente uma e três oitavas mais que o homem, nos agudos.
Curvas de iguais intensidades sonoras ou curvas isossónicas.
Uma curva isossónica representa o conjunto de sons puros que produzem a mesma sensação de intensidade, a mesma sonoridade, em função da frequência ( de acordo com a norma iso 206 e 2003).
O gráfico representa as curvas isossónicas médias de 50 indivíduos jovens normouvintes, obtidas numa câmara anecóica, em audição binaural e em campo livre. A unidade para caracterizar uma curva isossónica é o fone. Corresponde ao nível sonoro expresso em dB SPL a 1000 Hz. Por exemplo um som puro da frequência de 1000 Hz emitido a 20 dB SPL é igual a 20 fones, tal como um som puro da frequência de 100 Hz emitido a 43 dB SPL.
Nota: O fone é igual ao dB SPL unicamente para um som da frequência de 1000Hz.
O Sone
Não sendo o fone um índice de sensação mas sim de igualdade de sensações,foi criada uma segunda unidade: O sone. Para níveis superiores a 40 fones e para as frequências médias, o sone está ligado ao fone pela relação:
sone = 2(fone-40)/10. Assim a 1000Hz, um som de 40 fones valerá 2(40-40)/10= 1 sonio
A sonoridade varia de forma diferente em função da frequência. Em comparação com sons de 1 e 8 kHz, a sonoridade dum som de 0,1 kHz aumenta muito mais rapidamente. Isto reflete que a dinâmica auditiva a esta frequência é inferior à dinâmica auditiva para um som de frequência de 1 kHz ou 8kHz (ver acima, campo auditivo).
Limiar diferencial absoluto de intensidade.
É a mais pequena variação de intensidade física que provoca uma variação de sonoridade. Depende quer do nível de intensidade quer da frequência. Nas intensidades mais fortes, o ouvido é capaz de distinguir diferenças de intensidades de apenas 0,4dB. Estima-se em 150 o número de escalões de sonoridade.
Sonoridade e bandas críticas do ouvido
Se apresentarmos ao mesmo ouvido um som complexo composto de dois sons puros de frequências diferentes mas próximas, a sonoridade mantem-se a mesma desde que a diferença entre as 2 frequências seja inferior à largura da banda crítica; Se ultrapassa a largura da banda crítica, a sonoridade aumenta.
As bandas críticas podem ser comparadas com um conjunto de filtros de passa-banda justapostos em que as frequências de corte não são fixas ao longo da cóclea mas sim em função da composição frequencial do som que é apresentado.
Efeito de máscara (mascaramento)
A perceção dos diversos componentes dum som complexo não se faz de forma independente. Com efeito, por razões fisiológicas, a perceção de certas frequências impede a perceção doutros componentes: é o efeito de máscara.
Esta figura mostra os limiares auditivos obtidos sem mascaramento em verde, e com mascaramento por uma banda de ruido (1100 a 1300Hz) a diferentes níveis de intensidade.
A vermelho, podemos verificar a modificação dos limiares auditivos obtidos para um nível de ruido de 60 dB SPL. Por exemplo, um som puro de 1000 Hz só será percebido a uma intensidade de 45 dB SPL em vez de 3dB SPL na ausência de ruido.
Este gráfico mostra igualmente que o efeito do mascaramento aumenta com a intensidade e é mais pronunciado nas frequências agudas. Dito doutra forma, as frequências graves mascaram mais facilmente as altas frequências que o inverso.
Existe também um mascaramento central, isto é, uma modificação da perceção da intensidade do som teste, a nível central e não periférico. Por exemplo, quando se estimula um ouvido com um som puro e o outro com um ruido, a influência do mascaramento do ruido sobre os centros vai modificar a sonoridade do som puro. Portanto, cria-se um mascaramento sem atuar sobre o ouvido em estudo.
Outros fatores que influenciam a sonoridade
O efeito da duração
A sonoridade aumenta até um valor crítico compreendido entre 50 e 400 ms e depois diminui ligeiramente.
A previsibilidade do sinal
Quando um ouvinte espera um som de forte intensidade, a sonoridade que este provoca é menor do que se não o esperasse.
Reflexo estapediano
Este reflexo atua essencialmente sobre sons breves de frequências médias e intensidades superiores a 80 dB. Ele atua tornando mais rígida a cadeia tímpano-ossicular, o que se traduz numa diminuição da vibração sonora e por consequência numa diminuição da sonoridade. No entanto, este reflexo é fatigável.
Fadiga auditiva
Depois da exposição do ouvido a um ruido muito intenso, observa-se a elevação dos limiares auditivos devido à fadiga das fibras nervosas. Podemos perceber este fenómeno quando saimos duma discoteca ou depois de usar um leitor de MP3.
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