Excitotoxicidade

 O principal fator etiológico da patologia neuronal no órgão espiral é a excitotoxicidade ligada ao neutransmissor das células ciliadas internas: o glutamato. Ela surge essencialmente em 2 circunstâncias: acidentes isquémicos locais e / ou traumatismo acústico.
 No entanto, a excitotoxicidade acaba por estar envolvida em toda a patologia que afeta as células ciliadas internas. Assim, encontramos este fator de patologia neuronal tanto na ototoxicidade como na presbiacusia, onde é o grande responsável pela perda neuronal encontrada nestas patologias.
 A excitotoxicidade está também diretamente envolvida no aparecimento de acufenos periféricos.

 O choque excititóxico

Experimentalmente, provoca-se um choque excitotóxico após a perfusão de AMPA ou cainato (agonistas do glutamato), todos os dendritos aferentes que fazem sinapse com as CCI são lesados (explodem).
 A grande ampliação (direita), distingue-se um resíduo duma membrana dum botão sináptico  e um corpo pré-sináptico (ribbon) (seta vermelha).

A CCI está assim desconectada do neurónio, com o desaparecimento dos potenciais cocleares. 
 Escala : 10 µm (esquerda) ; 0,3 µm (direita)

Le choc excitotoxique

R Pujol

Le choc excitotoxique

R Pujol

 Este mesmo tipo de lesão surge após exposição a traumatismo acústico ou acidente isquémico e pode ser impedida pela aplicação de antagonistas do tipo AMPA como o DNQX.
 Dentro de certos limites, as terminações do sistema eferente lateral, especialmente as dopaminérgicas, podem ter efeito protector.

Reparação sináptica após lesão excitotóxica 

Réparation synaptique après un choc excitotoxique
  1. Complexo sináptico sob a CCI: normalmente, a CCI sinaptiza com um botão sináptico (azul) dum dendrito aferente, sendo visível um corpo pré-sináptico, e o botão sináptico está em contacto com uma terminação vesiculada duma fibra eferente lateral (rosa). Por baixo o potencial coclear normal.
  2. Fase aguda da excitotoxicidade: O botão dendrítico "explode" restando apenas alguns resíduos membranosos. A terminação eferente não é lesada. Por baixo, o potencial coclear desaparece.
  3. Um dia depois, o dendrito cresce e recontacta novamente a CCI. A terminação eferente passa a contactar directamente a CCI. O potencial coclear começa a recuperar.
  4. Cinco dias após a lesão excitotóxica verifica-se a recuperação total do complexo sináptico. O potencial coclear é normal.

No Homem, este processo é provavelmente subjacente à recuperação auditiva que se verifica frequentemente após episódios de surdez súbita isquémica ou traumática. A repetição destes episódios (traumáticos ou isquémicos) acaba por alterar a regeneração ou mesmo matar os neurónios, com a consequente surdez permanente (ver traumatismo acústico).

Última atualização: 2014/30/09 12:03